sabedoria consome
é caminho sem volta
destino em si
uma trilha torta
saber não traz paz
sabedoria devora
tamanho dissabor
é no entanto melhor
como menina travessa
depois que entra em nossa cabeça
nos dá o céu
mas tira o chão
sabedoria é cafajeste
nos apaixona de primeira
depois que nos consome cospe no rosto
bate forte e atesta que a culpa é nossa
da nossa vontade de não se deixar aquietar
como uma pessoa ciumenta
depois que se nos apresenta
tira tudo de nós
e só a si mesmo se resta
sabedoria é a pílula azul
quem a engole abraça a dureza
do perpétuo despertar
ninguém a pode digerir ou vomitar
não há aquele que após seu beijo se cure
ou após sua pancada não curve
não se pode mais displicentemente sonhar
sabedoria é a casa do coelho branco
conhecê-la é opção de quem pode e quer
deixa-la já não o é
tão mudado fica quem a conhece
o sábio é o tolo que insistiu encontrar
sabedoria ensina
quem a ela se alia
pode dizer viver
presente como fiel inimiga
sabedoria é poder
ela tira aos montes toda vida
entrega um pouco a cada dia
mostra a real forma de se ver
ela dá o único conforto
de entender que o sábio vive
respira o ar que respira
vive por aquilo que luta
sente prazer ou dor, tristeza ou alegria
expõe nossa insignificância
e mostra que é peçonhenta a arrogância
de modo que nos força a aprender
além de devassar, ela cobra
deita o pesado fardo
que ninguém pode todo tempo carregar, nem abandonar
ter sabedoria é merecer o eterno trabalho de espalhar o saber
de dar aos futuros sábios o fruto e desfrute de aprender
sabedoria tudo ensina, só não explica os porquês