segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Tapas Sem Mão

Eu avisei que você iria cair agindo desse jeito. E que dessa vez eu não estaria lá...
Como você poderia ter confiança em mim se eu te acolhesse no momento da queda?

Eu sempre acreditei em você, mesmo quando você me dizia que iria me machucar ou abandonar.

Talvez eu tenha mais pra te agradecer que a te cobrar. Você me ensinou demais. Me ensinou tanto que dói. Aprendi contigo a enxergar, por sua culpa hoje vejo a verdade.

Antes tolices guiavam meu raciocínio. Eu pensava que os detalhes decidiam ou definiam o que é sim e não, certo ou errado, bom e ruim. Detalhes são só lembranças, que vez por outra esquecemos ou confundimos, coisas que sobre a verdade criamos.

Tuas mãos me arrancaram, sem que eu percebece ou quissese, a inocência. Sem me questionar. Hoje posso dizer sem tremer que chegei à maturidade. Aliás, já não preciso mais me afirmar.

Não controlo o amanhã. Nesse momento só tenho uma coisa pra te dizer, algo que muitas e muitas vidas te vi dizer: "segue teu caminho, criatura”. Nas voltas do mundo sempre dançamos de posição em posição. Meu amor, hoje você está muito pra baixo. Eu, daqui do alto, não posso mais te acompanhar.

Veneno

quero te colher
vou te irrigar
toda tua flor, cada pétala
toda tua flora, cada flor
de pétala à pétala
até o amor

você quer o que quer que venha em mim
eu trago, eu venho
você se dá e eu entrego a ti
veneno
você me dá e te entrego
veneno

te uso, te gasto. te deixo em trapos gastos
se gosto faço uso até não ter gosto
te devolvo a ti quando terminar
aproveita e aprende: muda
aproveite e aprenda: renasça
tudo que tive de ti tu te tomaste
para mim ou por mim
melhor seria ter sido para ou por si

em sangria desatada
aprenda a se resguardar
com uma sangria desatada
aprenda a se resgatar

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Vingança

"Eu te dei tudo, seu vagabundo infeliz!" - assim começou a única briga.

"Meu amor, que eu nem sabia que tinha! Meus sentimentos, minha primeira vez, meu viço, meus pensamentos... a minha vida!" - exagerou bastante a menina bonita.

Em soluços continuava:  "Nada que veio de você foi verdade, tudo foi uma velada inventada mentira!"

"De tudo, nada que vivi de nada valeu, foi tudo tão vão, seco, ordinário, vulgar e febril, nessa minha vivência vadia. Sem jamais merecer nada você surgiu, deu sentido a minha vida vazia." - piegas, não sabia o que dizia.

"O que eu quis nem sabia. Quero você, que sejas minha companhia. O que eu fiz foi venal. É minha volição, mas agora sei que é só você que eu quero, compartilhar a vida. "

"Nem vem! Contigo não fico mais nem um instante! Você se fez, fazia propositalmente tudo que eu esperava ou queria. Mas nada foi de verdade! Velada inventada mentira! Como pude acreditar nas coisas que você dizia? Quando você ia eu chorava, e quando voltava e mentia pra mim, sempre que me via. Você é um vândalo! Vil, viciado, vagabundo, vaidoso, vazio. Espero o pior que exista pro teu futuro, a minha vingança será você me ver feliz da vida! Da próxima vez que nos virmos, você vai me encontrar refeita, pode crer!" - fraseou uma música que ele gostava, a menina

"Aliás, vou fazer pior!" - dizia gritando a menina - "Você me quer?” - questionou vagarosamente a maviosa menina bonita.

"Você é tudo que eu mais queria!" - foi sua resposta, ele que era mestre não conseguiu domar as palavras naquele dia.

"Então me beija" - sem qualquer expressão expressou.

E antes que a habilidosa boca dele fizesse vibrar a bela boca da menina, disse ela cristalina: "Lembre bem desse beijo, esse é o último que terás meu, uma lembrança do que nunca mais você vai ter na vida. Vou ainda sempre fazer você me ver beijar, então vem e me beija, lembre de quão boa é minha boca, vai, vem! Beija" - e assim, com um beijo, terminou a briga.

Ela deu as costas a ele, e nunca mais se viram na vida.

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este é o texto derradeiro da sequência em V. antes de lê-lo, ler os anteriores: VaticínioVicissitudeVida.

domingo, 5 de setembro de 2010

Vida

a outra é uma deusa, ela é até bem bonita
ele era habilidoso, fazia apenas o que queria

a deusa é vaidosa, a bonita lascíva
ele era vadio, vaidoso e cheio de lascívia

ela foi feliz, ele deu a ela os melhores momentos da vida
ele tinha as duas, ainda várias outras tinha
a bonita amava ele, a deusa queria apenas de se sentir viva

ela conheceu a outra, e perdeu a alegria
o habilidoso perdeu o amor, e percebeu que amava a bonita
ele se arrependeu, por viver uma vida vazia

a outra vangloriou-se, sorriu e partiu
ela foi traída, chorou e sentiu
ele perdeu ela, tudo de verdade que teve na vida
ele perdeu o amor, tudo de valor que teve na vida

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terceiro texto da sequência em V. leia os anteriores: Vaticínio e Vicissitude.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Vicissitude

No começo me dar foi difícil. Quando eu estava só até fantasiava sempre ter alguém sempre comigo.

Foi você quem me transformou, descriou o vazio, colocou dentro de mim algo que parecia impossível, sem fazer muito me fez sentir o infinito, inundou meu corpo com teu amor tão caloroso, que hoje tanto preciso.

Agora, nunca fico só. Ainda que estejas distante, carrego o teu amor e te sinto que estás comigo.

Hoje quero me entregar, preencher o vazio. Me doar de novas formas, que não conhecia e aprendi contigo. Te fazer feliz assim, e muito, muito, muito, muito, muito, em todas as formas, ser feliz contigo.

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este é da sequência em V. ler depois: Vida e Vingança.