domingo, 18 de julho de 2010

Homi

O HOMI QUE VIVE NO MATO
NUM SABE O QUE É MORRER
PRA ELE O TEMPO NUM PASSA
APOIS DESCONHECE VIVER

O DIA DELE COMEÇA CEDO
E ACABA QUANDO ESCURECER
NUM SABE QUE DIA QUE É
SE DOMINGO, SEGUNDA OU SÁBADO
SABE SÓ O QUE DEVE SABER

PRA SERVIR DE FARRAPO DO MUNDO
NUM PRECISA ESTUDAR, NEM QUERER

O HOMI QUE VIVE NO MATO
ELE NUM MORRE
APOIS SÓ MORRE QUEM VIVE
ELE NUM NASCE MENINO
NEM SE ALEMBRA QUANDO SE TORNA VARÃO

NINGUÉM SABE SE ELE PENSA OU SE SONHA
APOIS QUE SÓ FALA SE FOR PRA OBEDECER
NA SUA PASSAGEM VAZIA NO MUNDO
SUA ALEGRIA É TÃO POUCA E BANAL
SONHA SÓ EM SE FAZER RESPEITAR
NUM PENSA NEM EM PARAR DE SOFRER

UMA HORA O SOL SE APAGA
E O HOMI DO MATO PÁRA
A LUZ ALUMIA MAIS FORTE E ACABA
O HOMI RESPIRA MAIS FUNDO E APAGA
SÓ ENTÃO DESCANSA, AO MORRER

contexto: eu me compadeço muito com os injustiçados. quando assisti Abril Despedaçado (recomendo muitíssimo) me doeu muito ver o Pai (que no filme não tem um nome, simplesmente é o pai) e o Mininu (que no filme não tem um nome, simplesmente é um menino a quem todos nós negamos dignidade) trabalhando daquele jeito infeliz que trabalham.
que eu me lembre, nunca fiz cordel. mas tentei fazer esse texto com alguma semelhança aos cordeis. isso  por conta de Carolina, que achou parecido com um cordel um texto desavergonhado (e impublicável) que eu fiz pra minha musa.
nesse texto deu uma mãozinha (um dedin), o semantic guy, @brunokbcao
se achou interessante, recomendo o Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. mostra o sofrimento dos homens do mato e o valor da vida.

e dedico esse texto pra mulher que tem um sorriso que abraça, que tem um abraço que parece um xero bem gostoso no coração, pra menina Carolina.

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